do cachorro

"Vocês pensam que carioca come arroz, feijão, carne e farinha, igual a gente? É só folha, alface, acelga, rúcula e sei lá mais o quê. Eu não dou conta. A gente que trabalha o dia inteiro vai comer só mato? Pois eu como a comida do cachorro, que tem frango, carne, rã. Como mesmo"
- Neide, empregada doméstica, paraibana, moradora do Morro do Cantagalo, no Rio de Janeiro

tragicomédia

aquela senhora viúva foi ao cinema
enquanto o filme não começava
ela se entristeceu

também, depois que ele morreu, tudo era motivo para que aquela senhora se entristecesse

chorou, as lágrimas pulavam, pensando
devia ter vindo mais ao cinema, com ele
devia ter vindo

a boa notícia é que o filme era uma boa comédia
saiu do cinema e foi comer um sanduíche de queijo, o favorito dele, que ela sempre detestou

carnaval

figuras
smurfete pinta o rosto de papai smurf
shrek e fiona derretem um caldo verde sob o sol
um senhor se casa com uma senhora, no meio da rua
e as mulheres estão desesperadas

ironias
uma maca é carregada atrás do trio elétrico
deitado, um senhor gordo e suado
como era mesmo aquela história
de que não iria atrás do trio quem já tivesse morrido?

tristezas
do alto da sacada
um senhor observa tudo
usando binóculos
daqueles verdes, de brinquedo

deslocado
no elevador cheio de celebridades
o exbigbrother se sente excluído
e o pior: estava a caminho do camarote
excluído e deslocado, pobre exbigbrother

aeroporto
frevo frevo frevo